Para os infinitos
Para
o Pedro,
na certeza de que sempre terá o abraço de seu pai.
Então tudo passa, e o
Pedro - o filho da sua melhor amiga - nasce. E você descobre que coisas
grandiosas acontecem diariamente no mundo. E coisas lindas e minúsculas também.
E em quase dois anos, alguns
amigos vão fazer doutorado no Rio de Janeiro, e outros voltam de Macapá, e
outros engravidam, e uns abortam, e muitos parem. E um vem passar a Páscoa com
a mãe, e duas querem que você escreva peças de teatro para elas, e aquele
emagrece para ficar com barriga-tanquinho, e qualquer um se muda para a Austrália
para esquecer um amor (sem conseguir).
E no meio de tanta vida você se vê vivendo muita coisa.
Nesse tempo em que
estão separados, você foi à macumba e descobriu que era filha de Oxalá com
Oxum, e se viu devota de Santa Teresinha, e aprendeu a dançar – para que você
não precisasse mais dos passos alheios, mas tivesse a sua própria coreografia.
E começou a psicoterapia:
fez constelação familiar, tratamento bioenergético, regressão a
vidas passada e acupuntura. Ufa! E nessa empolgação, descobriu que não quer
passar o resto da vida carimbando papéis no seu emprego público, não!, sua sina
é ser psicanalista... Porque Freud é o cara! E agora quer ir pro Rio de Janeiro
estudá-lo profundamente e montar um consultório ajeitadinho, com uma estátua do
pensador em cima da mesa, vários livros escuros na estante e usar uns óculos miúdos
daquele tipo bem intelectual.
Se não for possível, quer
ficar por aqui e organizar rascunhos antigos e voltar a escrever histórias de
terror ou romances açucarados sobre moças pobres que se apaixonam por rapazes
ricos. E deseja publicar seus poemas, e crônicas, e as receitas que sua avó
deixou naquele livrão antigo, que você encontrou no cofre do seu pai.
E por falar em pai,
você descobriu que muito da sua solidão está ligada a ele – contrariando todos
os que dizem que a culpa é sempre da mãe –
pois ele nunca te deu um abraço apertado. E você, com a ajuda da terapia, se prometeu dar um abraço nele. Mas ainda não sabe quando... Nem como explicá-lo
tal repente.
Porém desde quando o
amor precisa de explicação?
E sendo sozinha, você leu
todos os livros do Harry Potter, virou orquidófila, aprendeu a andar de patins
e a baixar filmes em Torrent.
E saiu algumas vezes ao
sábado e beijou alguns gatinhos (ou vários) e se deu ao direito de tomar uns pileques
mesmo sabendo que, segundo seu médico ortomolecular, bebida alcoólica retarda o
emagrecimento. Mas, ah!, para que a pressa?
E então você percebe
que, tentando esquecê-lo, você se faz feliz. E descobre que, embora você queira
muito ter alguém, você consegue sobreviver muito bem sozinha. Porque às vezes a melhor parte do amor... é esquecê-lo!
Sim! Ele era lindo... E
pode até ter sido perfeito. Mas foi perfeito por um tempo determinado. Mas
pessoas como você não aceitam amores com prazo de validade.
Pois você quer o infinito,
já que o
infinito você é.
Mesmo sozinha.
chorei.
ResponderExcluirLindo Saulo. Virei sua fã!
ResponderExcluirLindo!
ResponderExcluirLindo....
ResponderExcluirSaulo tá lindo!!!!!! Estava esperando ansiosa por uma opinião sua sobre esse filme.
ResponderExcluirExcelente texto! Como sempre, estás de parabéns!
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