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Mostrando postagens de fevereiro, 2019

Deus. E o menino gay.

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A primeira vez que subi num palco, foi aos 15 anos. Eu tinha escrito uma peça de teatro para apresentar num festival do colégio. Nessa época, eu já sabia que aquele seria meu futuro e convidei minha mãe para assistir a apresentação. Queria convencê-la de que o teatro era um caminho sem volta. O auditório estava lotado.  As cortinas se abriram. Aquele frio na barriga apareceu. Mas poucos segundos depois de eu entrar em cena, um grande coro ecoou pela plateia. Todos os alunos daquele colégio católico – ou quase todos! –  gritaram harmoniosamente:  "Viado... Viado... Viado... Viado..."  A melodia repetiu-se várias vezes durante a apresentação e, ao final, não tive coragem de participar do agradecimento. Fiquei muitos minutos escondido pelas coxias e quando saí de lá, o teatro estava vazio. Exceto pela presença de minha mãe, que – embora estivesse tão humilhada quanto eu – segurou no meu ombro e disse:  "Foi uma boa peça, meu filho. Você tem futuro!"

É possível ser gay e feliz?

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De todas as violências que sofremos na vida, nenhuma dói mais do que aquelas selvagerias praticadas pelas pessoas que fomos obrigados a amar. Nossos parentes. Não sou do tipo que gosta de romantizar situações violentas do meu passado. Mas gosto de olhar para o lado bom de tudo. Por isso, sem medo de errar, digo que o grande estalo da minha vida se deu no natal de 1991 quando, pouco antes da meia noite, minha mãe – por alguma razão – avançou sobre mim, gritando:  “Não revira os olhos quando estiver falando comigo. Não revira os olhos de novo, senão eu quebro a tua cara. Tu não és viado. Tu não és viado”. A mão dela estava fechada. Não sei se ela cravava as unhas na própria carne para tentar se controlar ou para me bater. Mas não me bateu. A sala estava cheia de gente. Família. Amigos. Parentes de toda espécie.  Todos silenciaram!  Todos assistiram à cena de longe... imóveis... impassíveis... distantes... alheios. Poucas vezes me senti tão humilhado quanto naquela n

SEJA O GAY QUE VOCÊ QUER SER

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Essa semana, divulgaram no Facebook uma lista com, supostamente, os gays mais malvados da minha cidade. É incrível como o tempo passou e, no mesmo passo em que evoluímos tanto em alguns aspectos, continuamos tão iguais e idiotas em outros.  O que passa pela cabeça de um gay para fazer uma lista expondo outros gays? Será que agora ele (ou ela) está em casa, se sentindo a pessoa mais inteligente e esperta do mundo por ter exposto pessoas sem ser descoberto?  Bom, essa pessoa pode se sentir muitas coisas, mas jamais poderá se sentir "original". No início dos anos 2000, houve uma extensa lista com nomes de gays ditos malvados... obviamente os gays atingidos naquela época eram outros... Foi um pandemônio!  Se hoje em dia, já é ruim ter seu nome exibido numa lista destas, imaginem há 20 anos. Tempos mais tarde, saiu outra lista, na qual constava não apenas nomes, mas fotos de rapazes nus, feitas por um mau caráter que, se sentindo o "macho alfa", achou c