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Mostrando postagens de 2022

POEMA DE ANO-NOVO

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  Hoje é o dia para sentirmos falta Daqueles que já se foram e Daqueles que nós já fomos. É a hora exata de descobrirmos que a felicidade não floresce em castelos, Mas em cabanas discretas, Pois o amor é um rio subterrâneo que brota, em nascentes modestas, nos quintais das casas mais humildes. Porque amor é simplicidade! Hoje é dia para mentirmos Dizermos que não viveremos mais o passado Para mergulharmos na estrada em frente de faróis acesos. Velozes. Hoje é dia para termos esperança, Dia de darmos nome a uma estrela E imaginarmos nossos mortos em uma nave, Voando numa velocidade inimaginável Levando para outros povos memórias que foram apenas nossas para que esses novos seres – frios marcianos! – entendam o sentimento humano da paixão. Que a coragem de viver nos invada num brilho dourado Que os abraços ainda sejam sentidos à noite Que a viagem continue rumo ao infinito E que nesse sem-fim estejamos todos –   vivos e mortos, lá e cá

20 anos

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  se eu não tivesse te conhecido naquele dia, a vida seria uma sucessão constante de alegrias e os fatos seguiriam a ordem tão lógica das ciências que eu cantaria tua beleza apenas em forma de poesia.   se eu não tivesse te encontrado naquela noite escura, eu não teria sido arrancado do meu trivial e pequeno paraíso, para, até hoje, ficar fugindo de ti, como se em busca de uma cura, sem jamais encontrar a perdida paz e um local de sorriso.   de quem é a culpa pela tua morte, joão? até onde vai tua culpa por teres me deixado em pranto? eu ainda estou, sozinho, perambulando nessa escuridão, enquanto tu já fazes parte, há 20 anos, do vento: liberto, alegre, suave, vazio, vão. fazendo parte da terra, do mato, do minúsculo grão. sem olfato, sem cheiro. apenas ossos no chão, mas rasgando, com tuas unhas, que ainda crescem lento, o meu coração. saulo sisnando 19.12.22

AMOR VAMPIRO

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  Amor Vampiro, quando entras pela porta da frente, Sinto como se trouxesses o sol de presente, Deixando meu sangue violento, feliz e quente, Salvando meu espírito. Eu: homem doente!   Quando chegas alegre com teu sorriso diferente E relatas tuas histórias, labirinto de portas indecente, Acendes a chama mágica que, há tempos, brilhava distante, O ardil capaz de cessar a treva e me tornar, de novo, gente.   És a vida em plenitude, o beijo do amante No conflito do amor, tu és morte e nascente, És o que não vejo, mas me contas: o horizonte   Trazes, do sol, para mim, o aspecto mais brilhante Por isso, um segundo sem ti, é dia, não instante Eu te amo, amor vampiro, e és eterno... simplesmente. SAULO SISNANDO 26.12.22

TEATRO

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  Não vivo mil vidas no palco, Mas a minha vida mil vezes Percorro meu labirinto de dores Parar dar a outras vozes cem cores   Não vivo mil vidas no palco Isso seria tão-somente uma fuga Teatro não é partida, é cura, É quebrar, por ofício, a armadura   Em posse de uma sutil invisível espada Revelo cada aflição, camada a camada E qualquer lembrança, pela piedade, apagada   Dá à personagem sua voz, maior autoridade para enfrentar, sob luz violenta, tempestade e entregar ao público... a verdade. 20.12.22

O TEMPO, O PAI

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  Não meço o tempo pelas marcas no meu rosto Eu meço o tempo pelas ruínas de minha casa A sala, antes viva, cheia de franco sentimento, Hoje é vão vazio, preenchido por fria nebulosa   Por rugas, não contabilizo, do tempo, sua passagem, Mas pelas gavetas sem tuas camisas e teu aroma, E chinelos que não arrastam mais como linguagem A preencher meus ouvidos como o mais belo idioma   Não meço tempo em minuto, em hora ou dia, Mas na estranheza da poltrona vazia De um pai que já morreu   Tempo é silêncio, é mergulho em abismo meu, Que ele abriu como uma cova em meu peito, Quando virou terra levada pelo vento 16.12.22

A VIAGEM

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  Não escrevo para ser aplaudido, Não sou um narciso bandido Escrevo como libertação Da revolta de teres ido Habitar outra dimensão.   Não escrevo para ser aplaudido, Eu escrevo... porque dói! Saulo Sisnando 15.12.22

BEIJO PROIBIDO

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  Saudade daquelas férias de janeiro, Quando, no escuro, demos nosso beijo, Beijo primo de condenado desejo, jamais esquecido, meu amor primeiro.   Passeei os dedos pelos teus cabelos de mel, Te dando meus lábios e meu amor fiel, Sentindo, contra o peito, teu pulsante coração, Enquanto, pela minha nuca, deslizavas tua mão.   Éramos seres etéreos, tão puros, Figuras que, dentro, já não encontro mais, Sonhando ser um, os nossos dois futuros, Desse amor juvenil, planta brava e fugaz.   Éramos meninos, só dois meninos, Crendo que beijos selariam felicidades, Donos de sonhos tolos e cristalinos, De beijos unindo interditas metades.   Saulo Sisnando 15.12.22

ESTRELA

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  Dei teu nome a uma estrela Para sempre seres meu, Faiscando no imenso breu Como, no vazio, brilha a vela   Dei teu nome a uma estrela, Pois estrela não vai embora. Mesmo morta ainda se mostra, Mesmo fria ainda é bela   És ser que não tem fim, Mas, nesse amor, foste festim Teve sangue, mas foi brinquedo   Pois és alguém em segredo Habitando outra dimensão Que não alcanço em oração   Saulo Sisnando 14.12.2022

VÍCIOS

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  Embora eu tente esconder, tu conheces os mistérios do meu falso sorriso, as presas ocultas a abocanharem sem aviso; aqueles ardis processos de obter prazer.   Embora eu tente fugir dos teus abraços Apenas tu, com teus dedos em laços, És capaz de calar os meus infantes soluços Por derrotas que me prenderam em invisíveis calabouços E me desfiguraram o rosto, escondendo, de tal forma, os ossos Que nem reconheço mais os documentos que trago nos bolsos   Embora, nem sempre, eu te dê valor É por ti – acredite! –   que ainda vivo, alimentado por teu amor. Pois respirar, para meu espírito perdido, é apenas um favor Que cobrarei em breve, quando não suportar mais a dor.   É por ti que, em última tentativa de controle, meu coração dolorido bate a sístole, de um sangue lento a andar, pela minha carcaça, em desfile Buscando o contrapeso de tua poderosa diástole, Capaz de bombear pelo teu corpo, como num baile o sangue necessário para teu coração mole

Minha vida é um caminho cheio de curvas

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Minha vida é um caminho cheio de curvas Rumo àquela escura e profunda, minha amiga, solidão  E quando procuro escapar, mergulho em neblinas turvas Nas quais o silêncio impera e não ouço, da luz, a canção Minha vida é um caminho cheio de curvas Rumo ao mais infeliz e inóspito deserto Dentro de uma locomotiva veloz a cortar chuvas Chegando à mesma estação: o sofrimento certo. Minha vida é um caminho cheio de curvas Do qual não consigo me libertar Que me consome aos poucos, como queima a lava E, a vida, não vejo mais razão para amar. Saulo Sisnando 07/12/22

Felino

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Tu me vieste sem pressa como um perfume doce, Chegado por algum vento de uma primavera precoce. Um bom presságio e a promessa de levares a tempestade, Para eu viver a tranquilidade amorosa de serena tarde. Mas teus olhos, teu corpo, teu gênio de fera Em nada combinavam com a sensatez da primavera E nosso amor, a princípio terno, se transformou em hera A me crescer até libertar o que meu peito de contínuo gera De longas garras, antes domado, o monstro: a pantera! Neste instante, correndo solto, esse caçador, indômito felino, Te busca pela aldeia, para se conectar ao próprio destino Enlaçado como cordões de estrela em completo desatino Confundindo os deuses; qual destino terá, por fim, esse menino? Mas o felino sabe que a corrida nunca terá fim, Pois agora descansas entre violetas em um silencioso jardim No qual o tempo não existe e, de Deus, és querubim. Não estava preparado para tanto amor, tanta aflição, Foste embora no mundo e levaste meu senso, minha religião chegaste com gênio de f

Sempre foste tu

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  Sempre foste tu,­ meu guri, desde quando te vi, bem-te-vi, com teus olhos grandes e cabelos vermelhos como brasa, fogo: rubi.   Sempre foste tu, bem-te-vi, de barba malfeita e maxilar quadrado, e um olhar misterioso de quem tem um segredo guardado.   Sempre foste tu, bem-te-vi, com teu andar calmo, tua fala mansa e teu atraso como se o mundo – tão bárbaro! –   merecesse o teu descaso.   Sempre foste tu, bem-te-vi, quando partiste em direção oposta e eu fiquei aqui, sozinho, esperando tua resposta.   Sempre foste tu, pássaro bandido, que retornas agora à cidade, Para acabar de vez com a minha saudade e pousar nalgum fio, poste ou galho de onde possa me enxergar, sem arma, sem defesa... sem agasalho. E, de janela aberta, te deixarei mais uma vez entrar, para que na cabeceira da cama, tu possas pousar e juntos, seja possível averiguar, se podemos ser parelha, díade, par, ou se nascemos para ser separados, apenas à distância... a nos ac

SOLIDÃO

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Minha solidão tem o abraço úmido, estático, gelado, De quando, às cinco, entre cobertas, desligo o ar-condicionado E o silêncio ausente penetra o quarto, como se riscasse o traço De uma nave rumo ao desconhecido limite do espaço Onde o 'não-te-ter' talvez tenha significado sigiloso Que deuses escondem para manter o cosmos assim tão grandioso Como pode tanto, tudo... virar pó, poeira, nada Tua presença sendo levada, rápida, após tão curta lufada, Que deixou apenas minha expectativa jogada, solta, congelada E a minha essência perdida, louca; Em gelo, petrificada. [?] Saulo Sisnando 25.11.202
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  Descobri te amar quando não precisaste mais estar ao meu lado Como um gato de rua, trêmulo e desamparado Tendo em mim um porto para barcos sem direção alguma De vidas transcorridas em labirintos de vento e bruma. Hoje és homem feito: de pedra, de ar, de carne e de escuro. Trabalhas de oito às dezoito, tens um Golden e se dizes maduro. Às vezes, choras; pois o felino malandro ainda te arranha dentro, Mas aprendeste as malícias da noite, dores das quais foste epicentro. Livre, partiste em direção ao farol: o sol da meia-noite E deixaste apenas teu perfume no ar, sem ao menos dizer “amor, boa noite”. Saulo Sisnando 23.11.2022 Photo by Daniel Chekalov on Unsplash

Dia do Orgulho LGBTQIA+

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  Muitas pessoas não entendem o sentido da palavra “orgulho”. Ora, por que nos orgulharmos de sermos gays, ou lésbicas, ou trans, ou bissexuais, ou queers? Muitos associam à ideia de nos sentirmos superiores, melhores aos outros. Àqueles a pensarem dessa forma, pergunto-me: em qual mundo vocês vivem? Existe no dicionário uma acepção da palavra “orgulho” associada a “sentir-se bem” e à “sensação de contentamento em relação a si próprio”. Orgulho, portanto, é dizermos está tudo bem em sermos nós mesmos. Na prática – e para mim! – o orgulho LGBTQIA+ está ligado ao direito de não precisarmos nos sentir errados por sermos gays. É entender e lutar para, em um mundo construído para/pelos heterossexuais, temos direito a uma vida digna e não... não somos menos capazes! É batalhar para, nesse mundo, não termos mais direitos que ninguém, porém apenas aqueles com os quais vocês já nasceram sentindo-se detentores. Orgulho LGBTQIA+ é olharmos para o nosso passado e para todas as vezes nas quais apan