TEATRO VERDADEIRO - Quando arte, eu vivo!
Nos últimos tempos, eu tenho andado em busca de um “Teatro Verdadeiro”. Embora a verdade para um não seja a mesma para o outro. Nos tempos de inteligências artificiais, musicais enlatados e busca por uma estética “Broadway”, sinto o meu “teatro verdadeiro” voltar-se para o essencial, para o rústico, para o off-line.
Cada vez mais, sinto-me em casa apenas quando estou em um teatro compromissado com a sua raiz experimental.
O teatro atual abre mão de sua vocação guerrilheira e revolucionária, para se tornar um produto dentro de um mundo de plástico, no qual qual bom é se parecer com a Broadway. Ninguém se importa com o coração do espetáculo; o que interessa é assemelhar-se ao “original” da Disney. E então abandonamos nossas histórias, nossas lendas, nossa estética e, pior, nossas lutas urgentes e pulsantes — para, na conhecida síndrome de vira-lata, nos empenharmos para fazer peças tão “boas” quanto os americanos, os ingleses e os franceses. Embora eles estejam contando suas histórias. E nós? Não.
Não me identifico com os Xanadus-da-vida. E mesmo ao falarmos de nós mesmos, quando vamos fazer O Auto da Compadecida, por exemplo, temos de seguir a estética criada por Guel Arraes na série e nos filmes, para o público — obscurecido pelo cetim da embalagem — não veja o vazio da montagem e saia dizendo: “Nossa, igualzinho ao filme da Globo”.
Em meio a essas crises que me atravessam — e só a mim, pois cada um faz o teatro que quer — fui assistir ao espetáculo “Quando arte, vivo eu”, em cartaz no Teatro Casa neste fim de semana, que acompanha de maneira tanto sentimental quanto realista a vida e a arte de um dos mais (senão o mais) importantes encenadores paraenses: Luiz Otávio Barata, autor de peças como “Em Nome do Amor” e “Genet, o Palhaço de Deus”. Influente na cena teatral dos anos 70, 80 e 90, ver sua vida no palco me acarinhou nessa busca pelo teatro verdadeiro e essencial.
Luiz Otávio usava Nietzsche, Roland Barthes, Jean Genet — grandes pensadores e escritores estrangeiros —, mas os trazia para o nosso universo, os fazia trilhar nossas batalhas e necessidades, sem nunca nos colocar aquém.
Me emociona, pois compartilho com o Barata a ideia de encarar o teatro não apenas como um tablado grande e elevado para “sermos vistos”, mas como um ambiente de acolhimento, troca e união — sem, entretanto, tirar o protagonismo dos atores. O teatro é um lugar de salvação. Da carne e do espírito. Luiz Otávio foi um homem que entendeu o teatro como uma libertação — própria e do mundo.
Nesse atual mundo teatral de plástico, sigo em busca de discussões e lutas próprias. Volto-me para o verdadeiro e tacham-me de “experimental” e “alternativo” num mundo em que o comercial virou sinônimo de cópia. Pergunto-me muito se estou certo, errado, se sou um iludido sonhador… e ainda não tenho a resposta. Talvez nunca tenha. Mas me consola saber que sigo uma trilha aberta na mata do teatro de isopor, que leva ao teatro da união e da verdade.
Uma trilha aberta por Luiz Otávio.
Quando arte, eu vivo.
16 de maio de 2025
Comentários
Postar um comentário