EU NÃO ERA GAY, EU ERA UMA CRIANÇA

Durante toda a minha infância sempre houve, por parte de minha família, uma enorme vontade de que eu tivesse amizade com outros garotos. Quando eu era muito pequeno, lembro-me de brincar tanto com meninos quanto com meninas, mas na medida em que o tempo foi passando e meu jeito delicado foi ficando mais evidente, a amizade com garotos começou a rarear. Lá pelos 11 anos, no entanto, mudaram-se para o meu prédio dois novos garotos. Não lembro-me dos nomes, infelizmente. Recordo-me apenas de que um tinha a minha idade e outro era mais velho. Lá pelos 16. Era bonito e falava muito das namoradas que tinha. Nos encontrávamos no salão de festas – no meu prédio não tinha playground – e, um dia, o mais novo perguntou em qual colégio eu estudava e, logo depois, completou: "É perto do meu colégio. Amanhã nós podemos te dar uma carona". Subi as escadas esbaforido, na felicidade gigantesca de finalmente dar a minha mãe o orgulho de eu ter um amigo menino. ...