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Mostrando postagens de 2010

Holy Bible

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Não se encontraram por acaso. Seus destinos – escritos por mãos de deuses analfabetos – jamais permitiram que a sorte lhes presenteasse com tal fortuna. Acharam-se por insistência. Era a sexta vez que ele pedia para que lhe mandassem a melhor de todas. Mas, nesta solitária data, enquanto todas as melhores se perdiam bêbadas entre taças de sidra e fogos de artifício, mandaram-lhe a única moça disponível. Ela tinha olhos marrons, que denunciavam sua origem humilde, e seus sintéticos cabelos vermelhos traziam uma dignidade engraçada que, despretensiosamente, realçavam suas bochechas salientes e deixavam seu rosto encantador. Viera para a cidade com um objetivo certo: conseguir dez mil para custear os gastos com a mãe – uma mulher magra com um enorme tumor que enchia o estômago. Na despedida, olhou para o pai e, de lábios finos, disse para não se preocupar. “Serei atriz profissional”. O pai abraçou-lhe com pesar. Ele sabia o que significava ser atriz, mas, como deixara a dignid

A culpa é do signo

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"Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra" Caio Fernando Abreu "Amor, meu grande amor Não chegue na hora marcada" Angela Rô Rô e Ana Terra Não posso falar nada acerca dos homens. Deles, não entendo patavinas! Mas sobre nós, as mulheres, possuo vasto conhecimento e, por isso, sei que temos a mania terrível de inventar desculpas. Comemos potes de sorvete porque estamos um pouco deprimidas (afinal, nós odiamos sorvete). Compramos sapatos porque detestamos nosso chefe. E gastamos uma fortuna naquele vestido (que, aliás, até se parecia com aquele outro), não porque somos malucas por uma liquidação fajuta, mas porque fomos convidadas para uma festa na qual o nosso ex também foi convidado e temos de aparecer por cima da carne seca. Nós sempre inventamos pretextos ridículos. E, de todos, o mais recorrente é a desculpa astrológica . Sim, a culpa é do signo! A culpada é a minha mãe que, doida de pedra, de

Mentiras

Sim! A cada dia surge uma nova coleção de mentiras. Dentre todas, as piores são aquelas que contamos para nós mesmos, antes de dormir. Cochichamos inverdades no escuro, que tentam nos persuadir a acreditar que somos felizes. Ou que o outro é feliz conosco. Vezenquando queremos crer que conseguiremos mudar nossas imperfeições e que, de igual modo, o outro poderá mudar por nós. Convencemo-nos de que podemos conviver em paz com os nossos pecados ou que, em último caso, podemos nunca mais voltar a praticá-los. Sim! Todas as noites, antes de cair no sono, mentimos baixinho, numa esperança louca de que, ao amanhecer, tudo terá se tornado verdade. Livre tradução de um excerto de Desperate Housewives

Uma história sem meio

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inspirado pela foto de Diane Arbus. COMEÇO : Sempre quis ter gêmeos. Quando, de sua derradeira barrigada, nasceu uma filha solitária e desgarrada, não se deu por vencida: arrancou o braço da menina e criou-o como se fosse gente. E, como pares, cresceram: uma mais que outra. Vestiam-se como cópias, estudavam no mesmo colégio e, na adolescência, juntas, descobriram o sexo, posto que a mais alta não conseguia se masturbar sem a pequenina. Construíram um relacionamento incestuoso que durou a juventude e, ressurgia vezenquando, nas noites de solidão com os maridos viajando. FIM : Morreram no mesmo dia, em cidades diferentes. Nesta coincidência macabra, que sempre abraça os que são binários. Uma estava velha e enrugada. A outra, podre. Foram postas no mesmo caixão. Lado a lado. Acomodadas num enlace sexual perfeito. E, finalmente, a velha sem braço pode, na longa jornada rumo ao pó, ter o contrapeso do membro que, embora tivesse sido arrancado no nascimento, lhe havia fisgado ausen

Toalha de retalhos

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Fui eu mesma quem remendou aquela toalha que está sobre a mesa. Ela estava rasgada fazia tantos anos! Procurei por todos os cômodos da casa um pedaço de tecido da mesma cor e mesma textura e recortei no tamanho exato da fenda,que os ratos tinham feito. Malditos roedores! Lembro-me de todos! Sentei-me na cadeira e costurei, costurei com bastante cuidado e esmero para que não se pudesse ver a linha, perdida na própria textura do tecido. Fiz tudo sem pressa, para que ficasse perfeita. Os talheres talvez não fossem de ouro. Mas brilhavam como. E os pratos eram antigos, porcelana guardada num baú de família. Abri a velha arca, com uma dor de quem invade privacidade de si próprio, e limpei os pratos um por um. Voltaram a ser alvos, cheios daquelas rachadurazinhas de porcelana antiga. Um espelho branco, frio. Uma face distorcida no reflexo da luz. Tudo estava pronto! Uma meia luz trazia o clima de cinema antigo. A música era a mais bela que pude encontrar. Tudo estava perfeito, tenso,

Vou esperar

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(talvez) Um dia tu dirás que me ama Vou esperar... Mesmo que este dia esteja longe Vou esperar tu encostares em meu peito e teres vontade de dormir Da mesma forma como eu me aconchego nos teus abraços... Sentindo-te como ninho, cama. Enlaçando-te fortemente com braços nus e sentindo-te contra mim Quente e macio. Vou esperar! Vou esperar quietinho um dia tu me admirares Como eu admiro os passos de tua dança Esperar tu encontrares nos meus lábios a suavidade que encontro nos teus Ao mesmo tempo em que nossos cílios se tocam Piscam e nossos olhos se enxergam tão de perto... Pretos. Vou esperar cada abraço teu... Cada boa noite antes de dormir Como se essa fosse minha prece, Meu caminho para o céu, minha salvação! Esperar pacientemente o meu corpo se encontrar ao teu Um dia, quem sabe? Belamente... Completamente... Ser apenas um. Esperar o amor surgir nos teus olhos grandes e negros Esperar que me olhes cada vez como uma primeira vez... Apaixonando-te de novo.

Não fujas de mim

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Escrito para a pessoa ausente e após tanto amor na apresentação do grupo Verbus "Não fujas de mim neste dia, pois ha horas a serem vividas, lábios a serem tocados e pudores a serem desvendados. Tende piedade desta amadora e não resignes ao altruísta temor de me fazer sofrer. Pois o estorvo é meu. Esteja comigo mesmo que instigado pelo egoísmo, sem se inquietar com meu tormento intimo. Pois, desde que te conheci, esta aflição que embebeda meu seio é o ultimo sobejo que inda me pertence e que é somente meu. Sem duvida, amado, neste óbolo que é nosso amor, as duas faces são doloridas: se ficares, não ha paz; se te fores, um turbilhão de dores. Desse modo escolho a nossa exaustão diária. Prefiro Sofrer junto a padecer avulsa. Afinal não nasci para ser só. Embora o destino disso não saiba”. Saulo Sisnando 28.11.2010 23 h 56 min

Amo-te

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Para meu desvairado amor, Como pedido de perdão pelo nosso Carinhoso, mas tão mal feito sexo. Ainda te amo. Amo-te como horas que não passam Aprisionando-me num momento estanque recheado de encanto e martírio Amo-te como o azul [melancólico] cheio de dor Que explode em deslumbradas nuanças quando tu danças Naquele teu dom de colorizar senis fotogramas diários Amo-te pelos teus sonhos, querendo-te assim pelo que nem és E admirando-te como o amanhã [impreciso] sem saber se seremos nós, Como um presente embrulhado sob um pinheiro branco Aguardando a hora de se tornar clímax. Amo-te, enfim, pela morte que me causas diariamente E pela vida que colocas em meu peito cada vez que eu te toco. Saulo Sisnando 23.11.2010 23 h 22 mi n

E se...

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Ontem, nesta ansiosa angústia que tem sido minhas noites, tive um sonho estranho. Minha mãe apareceu para mim. E ela estava jovem. Numa juventude tão perfeita em detalhes que é impossível se reproduzir, quando envelhecemos junto das pessoas. Com aquele olhar de viés, que me acompanhou por toda a vida e que hoje me faz tanta falta, disse-me que se eu estava tão triste... Se tudo tinha dado tão errado... Ela me daria a chance de fazer de novo. Reviver tudo. Recompor meu caminho com novos detalhes. Deslizou as mãos pelas coxas, como se alisasse as dobras do vestido de florzinha, e falou-me que se deitasse em seu colo e fechasse por um instante os olhos, ao acordar seria uma criança. Pensei em regressar e soube que se retrocedesse, eu esqueceria as coisas ruins, mas também não saberia das felicidades que tive na vida. Se eu pudesse não ter conhecido o João, e não tivesse vivido tantos momentos difíceis: onde estaria o Flavio? Afinal meu melhor amigo apareceu graças ao mais triste m

A equação do amor ao fim

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Se temos de - [nos ( dissolver em moléculas )] = que pelo menos seja assim + em ( Sl Ow MO ti on ) . . Saulo Sisnando , que nunca entendeu de Matemática, escrevendo como Saulo Sisnando

A crônica do amor platônico ou A mais complicada matemática

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Ô coisinha complicada é esse tal amor. Você já pensou em quantas pessoas existem na sua rua ou no seu bairro? Centenas, certo? Pense então na cidade em que você vive, deve haver milhões de pessoas mais ou menos iguais a você. Se pensarmos no país, serão centenas de milhões; e no mundo, então, nem se fala!, são não sei quantos bilhões. Imagine que nessa infinidade de pessoas que existem, você escolheu ‘uma’ para amar. Agora vamos passar pela cabeça a remota possibilidade de que mesmo existindo esse oceano de pessoas, ocorreu a conjunção cósmica perfeita que fez o ser que você ama te amar de volta. Matematicamente parece ser um resultado bem improvável pensando nesses bilhões corpos que passeiam pelo mundo. Eu creio que é por isso que tem tanta gente sofrendo de amor (escrevo este texto porque sofro por um!), pois é uma sorte danada você amar exatamente a pessoa que te ama. Se você é um dos felizardos dessa loteria mais difícil que a MegaSena: agarre esse homem, case logo e tenha muito

Miau #4

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Te gosto mais do que eu poderia, mais do que eu deveria, mais do que eu gostaria. Enfim te amo na medida que tu mereces. Saulo Sisnando escrevendo como Saulo Sisnando

Quatro Vs Cadáver: humor, diversão e versatilidade

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por Orlando Simõe s Há muitos e muitos séculos o teatro tem sido uma das mais conceituadas e respeitadas manifestações artísticas humanas, isso desde a tragédia e comédia na Grécia. Entretanto, cada época foi trazendo novas formas, novas técnicas e a dramaturgia teatral , como toda boa forma de expressão, foi se reinventando, se moldando, se adaptando e trazendo novas formas de divertir e emocionar a platéia, inclusive através do diálogo com outras formas de expressão como música, cinema e dança. Na premissa do diálogo, da referência, do encontro é que a peça Quatro VS Cadáver se situa muitíssimo bem bebendo da fonte inspiradora do seu irmão caçula, o cinema. A peça é um conjunto de pequenos atos, ou pequenas outras peças, contando histórias distintas cujo único ponto em comum é um cadáver em cada uma delas... aparentemente é isso, aparentemente. Com um ritmo bem fluente em palco os atores se revezam ora entre um humor refinado, contido, de sacadas ora com um humor mais

Quatro Versus Cadáver: comédia paraense volta ao palco após temporada no Maranhão

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Vencedora do prêmio Myriam Muniz, da Funarte, “Quatro Versus Cadáver” retorna ao teatro do CCBEU neste fim de semana Após bem sucedidas apresentações na cidade de São Luís, volta aos palcos de Belém o espetáculo “Quatro Versus Cadáver”. Com textos de Carlos Correia Santos, Edyr Augusto Proença, Rodrigo Barata e Saulo Sisnando, a peça será apresentada nesta sexta, sábado e domingo (27, 28 e 29), sempre às 19h, no Teatro do CCBEU. Criador do projeto, Saulo Sisnando também assina a direção da montagem que venceu o prêmio Myriam Muniz, da Funarte, e ganhou a chance de circular por outras capitais brasileiras. Nos dias 14 e 15 de setembro, a produção segue para Macapá. A inusitada comédia, que reúne em um só espetáculo as estéticas e linguagens de quatro dos mais atuantes dramaturgos da atual cena teatral nortista, não apenas conquistou bom espaço na mídia maranhense como arrancou gargalhadas e aplausos do público de São Luís. A vitória no concorrido edital da Funarte está permitindo a

Boa noite, Cinderela.

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Uma Belém sombria, colorida por fortes e fechados tons de azul e vermelho. Uma princesa solitária trancafiada numa torre alta. Um bairro povoado por prostituas, travestis e marinheiros. Uma maldição que atinge uma jovem há dezesseis anos. Uma rua, na qual as cartomantes são bruxas e os assassinatos são cometidos com brilhantes punhais de aço. Uma rosa com o poder de nos fazer dormir para sempre e um coração que, trancafiado numa caixa, nos garantirá beleza eterna. Em junho de 2010, a produtora do Cuíra convidou-me para assinar a dramaturgia do novo espetáculo do grupo – um belo trabalho desenvolvido com os moradores dos arrabaldes do teatro. Com uma sincera e admirável confiança, deu-me livre-arbítrio para escrever a dramaturgia, exigindo apenas que, no palco, estivessem histórias do bairro da Campina. Por um mês, mergulhei no universo do local, ouvi narrações, fotografei, pesquisei e acompanhei diariamente a oficina ministrada pela diretora Marluce Oliveira. As hist

O incrível segredo da Mulher-Macaco

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Em celebração ao aniversário do cineasta Alfred Hitchock, que em 13 de agosto completaria 101 anos, o espetáculo “O incrível segredo da Mulher-macaco”, faz pré estreia nacional em Belém/PA, no Cine-Teatro CCBEU, nesta sexta-feira 13. Uma heroína preocupada com os preparativos de seu casamento. Um noivo milionário. Uma cruel criada. Um desconhecido em busca de abrigo. Uma matriarca paralítica. Uma atriz de cinema de identidade falsa. Seis personagens. Seis Vidas. Seis segredos. Vários crimes! Essa é a tônica da comédia-terror. Em meados de 2009, os atores Wendell Bendelack (“Sexo Frágil” e “Malhação”) e Rodrigo Fagundes (“Zorra Total”), desafiaram o dramaturgo e diretor teatral paraense, Saulo Sisnando, a escrever uma peça cômica, sombria, que seguisse os moldes das películas clássicas de horror hollywoodianas. Saulo aceitou o desafio macabro e os presenteou com uma história desmiolada, sangrenta e absurda, recheada de revelações bombásticas. E muitas piadas! Mergulhan

Saulo Sisnando: sucesso no teatro do Rio e Belém

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Matéria publicada no jornal “O Diário do Pará”, na Quinta-feira, 05/08/2010. (por Marcelo Gabbay) . . Belém receberá no próximo dia 13 de agosto, a peça “O Incrível Segredo da Mulher Macaco”, que entrará em cartaz no teatro do CCBEU, com texto e direção de Saulo Sisnando. A peça tem em seu elenco Wendell Bendelack, Rodrigo Fagindes e Renato Bavier como a Mulher Macaco. Ao mesmo tempo, “Quatro Versus Cadáver” e “Boa Noite, Cinderela”, também estarão em cena. E como se não bastasse, “Útero: fragmentos românticos da vida feminina”,é um dos espetáculos selecionados pelo Festival Territórios de Teatro, que acontece em Belém na mesma época. A peça Esse é o ano do jovem escritor que estará com quatro espetáculos em cartaz ao mesmo tempo. Um ritmo nada ruim para quem ainda dá expediente como advogado. “O Incrível Segredo da Mulher Macaco” veio por encomenda da Companhia Os Surtados, por meio dos atores Wendell Bendelack e Rodrigo Fagundes e estreou em 24 de julho, no Teatro Dom

Miau #3

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— Devo tomar um ou dois comprimidos? — Depende. O que você está sentindo? — Nada! — Ah!, então toma dois.