Eu não sabia, mas sempre amei demais o meu pai. Minha mãe conta que, quando eu tinha 4 anos, toda vez que ele saía, eu fechava a mão com força e só abria quando ele voltava para casa. Levaram-me a psiquiatras, neurologistas, médicos de toda espécie, porém logo descobriram que, em vez de uma doença, eu sentia apenas saudade. Meu pai começou a ficar mais tempo em casa, largou o cargo que o obrigava a viajar e eu nunca mais fechei a mão. Ela ficou aberta, como se estivesse sempre esperando um aperto, um carinho, um simples toque... mas nunca veio! Eu e ele nunca conseguimos ser próximos. Eu tinha a impressão de que não éramos chegados porque ele não queria encarar a verdade... Não queria ver que tinha um filho gay. Na adolescência, para tentar uma aproximação, minha mãe insistiu para ele me levar todos os dias ao colégio antes de ir ao banco no qual trabalhava. Não era um longo caminho, mas passávamos uns 20 minutos enclausurados naquele carro silencioso... Ele não dizia nad
Dia desses, uma amiga me convidou para ser padrinho do seu filho. Eu aceitei! Não sei bem explicar a razão, mas geralmente eu me dou bem com crianças. Gosto de conversar com elas, de ouvir suas histórias, de jogar videogame e andar de bicicleta. Infelizmente, desta vez, perdi o afilhado... Depois de nascido, a amiga me desconvidou. Ela achou melhor chamar aquele outro amigo hétero que também tem filhos... “ele se encaixa melhor no perfil. Além do mais, você não combina com estas coisas de família. Você faz a linha diferentão!” No dicionário dela, diferentão deve significar gay. Pela mesma época, fui impedido de ser padrinho de novo. Mas, agora, de um casamento civil na praia, “Você não tem uma madrinha com quem fazer par.” É interessante como algumas pessoas ainda pensam que homofobia é apenas espancar gays na rua. Pensam que comportamentos homofóbicos precisam sempre ser extremos, se resumindo a dar soco, chute e quebrar uma lâmpada fluorescente na cara de rapazes que anda
A primeira vez que subi num palco, foi aos 15 anos. Eu tinha escrito uma peça de teatro para apresentar num festival do colégio. Nessa época, eu já sabia que aquele seria meu futuro e convidei minha mãe para assistir a apresentação. Queria convencê-la de que o teatro era um caminho sem volta. O auditório estava lotado. As cortinas se abriram. Aquele frio na barriga apareceu. Mas poucos segundos depois de eu entrar em cena, um grande coro ecoou pela plateia. Todos os alunos daquele colégio católico – ou quase todos! – gritaram harmoniosamente: "Viado... Viado... Viado... Viado..." A melodia repetiu-se várias vezes durante a apresentação e, ao final, não tive coragem de participar do agradecimento. Fiquei muitos minutos escondido pelas coxias e quando saí de lá, o teatro estava vazio. Exceto pela presença de minha mãe, que – embora estivesse tão humilhada quanto eu – segurou no meu ombro e disse: "Foi uma boa peça, meu filho. Você tem futuro!"
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