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PARA AQUELE RAPAZ DO ÔNIBUS.

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  Algumas pessoas se apaixonaram pelo primo mais velho. Outras, pelo professor de artes. Muitos, desenvolveram paixonites sofridas pelo amigo hétero, e amargaram em segredo a obrigação de manterem os sentimentos aprisionados. Vibrando e suspirando veladamente, cada toque de joelhos – enquanto estudavam para a prova de matemática – a cada cheiro, que permanecia após o abraço de despedida. Eu, por outro lado, sempre ultrarromântico, era do tipo de me apaixonar perdidamente no ônibus. Lembro-me, como se fosse hoje, a primeira vez na qual me apaixonei por um rapaz no ônibus. Era início dos anos 90, eu devia ter uns 15 anos, e era fim de tarde, com   céu daquela cor romântica a pintar sempre as histórias de amor passadas. Peguei o coletivo em frente ao colégio Marista e sentei na primeira poltrona, logo após a catraca. Pela idade, decerto, eu estava pensando no meu novo livro jamais escrito nos moldes de Sidney Sheldon. E entre pensamentos sobre autógrafos e bestsellers, meus ouvidos

Coração Bravio

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Para Dimas Por seres um homem de coração bravio, tua alma precisa das carícias do vento, da pequena cidade, do peixe pescado no rio, do olhar dessa gente animada, mesmo em desalento. Porque és um homem criado no mato, usas esses chapéus de cowboy e botas de vaqueiro, e comes sempre em pé e falas alto como se trouxesses na voz a alegria do mundo inteiro. Como és um menino tão simples e ingênuo dizes 'eu te amo' em silêncio, sem retorno, numa tentativa de quebrar um pai distante capaz de amar apenas em silêncio sereno Meu irmão, Tu tens o sangue peão correndo nas veias e montas teus cavalos rumo ao azul tão puro onde não és pai ou filho, rico ou pobre, noite ou dia, és apenas um menino que não pensa no futuro. E o 'eu te amo' nunca respondido, é ouvido na brisa que balança a crina teu cavalo em fuga pois o amor de um pai, está nos botões da camisa nos ensinamentos e canções que deixou na tua vida. O amor de teu pai,  irmão,  vive nos botões de tua camisa. Saulo Sisnando 2

POEMA DA ATRIZ

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 Para Sylvia Bandeira Aniversário de uma grande atriz é data sem razão, Como medir uma vida se tantas existências a fazem? Se o corpo é apenas vagão de um longo trem em viagem onde almas provisórias sobem e descem a cada fria estação As gares se vão, o vento muda, mas seu tempo não escoa, Pois sua irresistível beleza vem da sabedoria da personagem, Que partiu, na névoa, deixando fragmentos de ficta pessoa Como armas para enfrentar a vida de forma mais bela e selvagem Esse dia, é tua coração de rainha hora de grande aclamação, Quando, após derradeira linha, volta para o último aplauso, Ciente da força estimulante de sua magistral interpretação Criando um desconhecido universo Feroz e gentil, de onde é impossível sair sem aberta e pulsante cicatriz A marca profunda e em brasa do seu visceral talento de atriz. Saulo Sisnando 15 de fevereiro de 2023.

AMOR NEGADO

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  Quisera eu ter um avião Para que, onde tu habitas, o firmamento Pudesses professar as alegrias do teu coração Pedindo teu amor, teu homem, em casamento.   Quisera eu ter um país só meu, Erguido não por cima normas frias, Mas sobre as leis do amor, da empatia, Para que pudesses viver, não regalias!, Mas a igualdade do ser eu.   Logo a ti, menino viajante, Tu que tens as asas de Ícaro, Foi negado o direito derramar na altura do sol nascente, Teu amor, teu desejo, tua paixão ardente, Tua fidelidade de cisne, comprometida com teu par Como um pássaro a percorrer, infinitamente, Toda a distância do mar.   Mas calma, menino amante, Pois, diverso de Ícaro, Não despencaras sobre o Egeu, mar gigante, Morto, combalido, em brasa ardente Pois, nas tuas asas de pássaro, Existe a força de um povo, uma nação, Que ouve o teu lamento triste Como um convite para a luta, uma intenção, um brado ensurdecedor e vibrante, Para que o amor – teu sonho –

Lagoa Seca

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  De todas as minhas lembranças, esta a mais bela. Uma velha ouvindo rádio, uma solidão, um penico... O último quarto de uma casa amarela.   O cheiro da grama molhada de manhã, Os gafanhotos insensatos, voando e fazendo barulho; O jardim cheio de rosas. Os pés de romã.   O vira-lata mancando, com nome de vitória O pé de seriguelas de doces frutos a cair no chão; A lenda do cachorro fantasma na noite de lua cheia.   Os bancos com pés em formas de cavalos, Onde conversamos sobre sonhos jamais realizados; Os vaga-lumes piscando em breves estalos.   Nenhum céu, de nenhum lugar, tem mais estrela, Que o céu da Lagoa Seca, do sertão do Ceará, A mais bela e irretocável celeste aquarela Que Deus foi capaz de pintar.   Mas hoje tudo é cimento, cinza, altos prédios. Da casa amarela, nem o penico resta no lugar O perto, ficou longe. Abraços quentes... agora, frios Mas a memória continua e invade... violenta... como o mar.

Receita de Sobrevivência em Redes Sociais

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 Se você usa Redes Sociais, precisa ter precaução Senão cai no abismo sem fundo, chamado comparação. Há gente que tem lancha, fama e maior peitão, Parece tão fácil soltar ‘pum’ e ganhar atenção. A foto pode ter mil likes, ser uma perfeição,  E, no fundo, ser tudo plástico: faltando amor, dor, riso, coração. Se o outro conseguiu hype... Parabéns! Apenas deseje luz,  Mas, cá entre nós, o que se esconde sob aquele capuz? Você não sabe o preço pago para sentar no cobiçado trono Por isso... desliga esse Instagram um minuto, sai desse inverno Esquece o agora. Conecte-se com o eterno Abra a sua janela e deixe entrar a luz do dia Leia um livro, uma HQ. Até novela tem mais valia! Já devia estar rico? Magro? Morar em São Paulo? Usar terno? Pelo amor de Deus, não embarca nessa desgraça de comparação Que nos impõe o TikTok, o Instagram; esse tal “mundo moderno”  Pra que tudo tão certo? Cada um tem sua cruz e sua expiação! Pega um lápis! Sem pressa... Vai sem afobação!  “Eu não preciso ser o outro”
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Não lute outra luta, uma hora dá certo É só manter a fé e ficar esperto, O pior já passou, já virou retrato Agora, vai ser de boa... um barato! Vai na maciota; rapaz, vai na manha! Tudo é exatamente como tem de ser Cada um tem sua própria montanha É o que viemos aqui aprender Então: olha em volta e respira fundo.  Liga o seu sentido aranha, E descobre sua missão nesse mundo! Vai por mim, não lute outra batalha, Nem se desvie da rota um pouquinho e será feliz como um passarinho. Saulo Sisnando        09.01.23