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Mostrando postagens de novembro, 2022

Sempre foste tu

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  Sempre foste tu,­ meu guri, desde quando te vi, bem-te-vi, com teus olhos grandes e cabelos vermelhos como brasa, fogo: rubi.   Sempre foste tu, bem-te-vi, de barba malfeita e maxilar quadrado, e um olhar misterioso de quem tem um segredo guardado.   Sempre foste tu, bem-te-vi, com teu andar calmo, tua fala mansa e teu atraso como se o mundo – tão bárbaro! –   merecesse o teu descaso.   Sempre foste tu, bem-te-vi, quando partiste em direção oposta e eu fiquei aqui, sozinho, esperando tua resposta.   Sempre foste tu, pássaro bandido, que retornas agora à cidade, Para acabar de vez com a minha saudade e pousar nalgum fio, poste ou galho de onde possa me enxergar, sem arma, sem defesa... sem agasalho. E, de janela aberta, te deixarei mais uma vez entrar, para que na cabeceira da cama, tu possas pousar e juntos, seja possível averiguar, se podemos ser parelha, díade, par, ou se nascemos para ser separados, apenas à distância... a nos ac

SOLIDÃO

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Minha solidão tem o abraço úmido, estático, gelado, De quando, às cinco, entre cobertas, desligo o ar-condicionado E o silêncio ausente penetra o quarto, como se riscasse o traço De uma nave rumo ao desconhecido limite do espaço Onde o 'não-te-ter' talvez tenha significado sigiloso Que deuses escondem para manter o cosmos assim tão grandioso Como pode tanto, tudo... virar pó, poeira, nada Tua presença sendo levada, rápida, após tão curta lufada, Que deixou apenas minha expectativa jogada, solta, congelada E a minha essência perdida, louca; Em gelo, petrificada. [?] Saulo Sisnando 25.11.202
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  Descobri te amar quando não precisaste mais estar ao meu lado Como um gato de rua, trêmulo e desamparado Tendo em mim um porto para barcos sem direção alguma De vidas transcorridas em labirintos de vento e bruma. Hoje és homem feito: de pedra, de ar, de carne e de escuro. Trabalhas de oito às dezoito, tens um Golden e se dizes maduro. Às vezes, choras; pois o felino malandro ainda te arranha dentro, Mas aprendeste as malícias da noite, dores das quais foste epicentro. Livre, partiste em direção ao farol: o sol da meia-noite E deixaste apenas teu perfume no ar, sem ao menos dizer “amor, boa noite”. Saulo Sisnando 23.11.2022 Photo by Daniel Chekalov on Unsplash