Sempre foste tu
Sempre foste tu, meu guri,
desde quando te vi, bem-te-vi,
com teus olhos grandes e cabelos vermelhos como brasa, fogo:
rubi.
Sempre foste tu, bem-te-vi,
de barba malfeita e maxilar quadrado,
e um olhar misterioso de quem tem um segredo guardado.
Sempre foste tu, bem-te-vi,
com teu andar calmo, tua fala mansa e teu atraso
como se o mundo – tão bárbaro! – merecesse o teu descaso.
Sempre foste tu, bem-te-vi,
quando partiste em direção oposta
e eu fiquei aqui, sozinho, esperando tua resposta.
Sempre foste tu, pássaro bandido, que retornas agora à cidade,
Para acabar de vez com a minha saudade
e pousar nalgum fio, poste ou galho
de onde possa me enxergar, sem arma, sem defesa... sem agasalho.
E, de janela aberta, te deixarei mais uma vez entrar,
para que na cabeceira da cama, tu possas pousar
e juntos, seja possível averiguar,
se podemos ser parelha, díade, par,
ou se nascemos para ser separados,
apenas à distância...
a nos acenar.
SAULO SISNANDO
28 de novembro de 2022.
22h44
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