Quatro Vs Cadáver: humor, diversão e versatilidade


por Orlando Simões



Há muitos e muitos séculos o teatro tem sido uma das mais conceituadas e respeitadas manifestações artísticas humanas, isso desde a tragédia e comédia na Grécia. Entretanto, cada época foi trazendo novas formas, novas técnicas e a dramaturgia teatral , como toda boa forma de expressão, foi se reinventando, se moldando, se adaptando e trazendo novas formas de divertir e emocionar a platéia, inclusive através do diálogo com outras formas de expressão como música, cinema e dança.

Na premissa do diálogo, da referência, do encontro é que a peça Quatro VS Cadáver se situa muitíssimo bem bebendo da fonte inspiradora do seu irmão caçula, o cinema. A peça é um conjunto de pequenos atos, ou pequenas outras peças, contando histórias distintas cujo único ponto em comum é um cadáver em cada uma delas... aparentemente é isso, aparentemente.

Com um ritmo bem fluente em palco os atores se revezam ora entre um humor refinado, contido, de sacadas ora com um humor mais escrachado, escatológico até, mas tudo dentro do necessário para desenvolver as complexas tramas diante do espectador. A bem da verdade as tramas não são tão complexas assim, mas a maneira cômica com que as situações são conduzidas e os personagens são apresentados e confrontados uns com os outros é que acaba causando essa complexidade cômica em cena. O que era para ser sempre uma trama girando em torno de um cadáver acaba se tornando uma verdadeira farra de caras e caretas, trejeitos e reviravoltas inexplicáveis no palco com gente assumindo romances improváveis e confessando pecados inconfessáveis.

O que pareceria uma loucura é na verdade uma grande homenagem ao cinema noir e suas tramas complexas, assassinatos planejados , detetives desconfiados, mulheres fatais, empregadas misteriosas, casos amorosos, dinheiro em jogo e muita, muita desconfiança mútua.
Para homenagear ainda mais essa paixão pelo cinema, entre um ato e outro da peça o espectador vê sob pouca luz o cenário ser arrumado, reorganizado para o ato seguinte, enquanto ao fundo avança uma projeção de vários filmes e trechos de obras clássicas de autores cinematográficos do noir. É tão interessante que o espectador nem nota o tempo passar e a transição acaba se tornando parte do ato todo.

Saulo Sisnando, autor, ator e diretor da peça aproveita bem a oportunidade e as características de nosso tempo para mesclar a linguagem teatral com a cinematográfica, fazendo um teatro ágil, divertido e conectado com o a pluralidade marcante de nossa época onde uma expressão reforça outra, onde uma linguagem fala com outras, se misturam e exatamente nesse processo de encontro se renovam.

Com referências não só do cinema noir como também da literatura noir e dos quadrinhos como Dick Tracy, Sisnando nos brinda com um peça que faz o teatro dialogar consigo mesmo e com outras mídias, utilizando muitíssimo bem seu recurso de quatro textos de quatro autores diferentes amarrados ao final por um último ato que é pura metalinguagem. Não poderia ser diferente no final.

Premiado pela FUNARTE o espetáculo conta também com textos de Edyr Augusto Proença, Carlos Correia Santos e Rodrigo Barata, cada um deles escrevendo uma das tramas que se seguem no palco.

Por fim, nossa equipe gostaria muitíssimo de agradecer
ao convite feito a nós para cobrir e prestigiar a apresentação, ao material cedido para divulgação no Ponto Zero e em especial a parceria que nos proporcionou presentear dois leitores com ingressos para prestigiar também esta
excelente peça toda escrita e interpretada pelo melhor do teatro paraense. Muito obrigado e parabéns a todos da equipe da peça pelo trabalho de primeiríssima mão.

FICHA TÉCNICA:
Direção Geral: Saulo Sisnando

Textos:
“Quem matou minha personagem?”, de Carlos Correia Santos
“O caso do Muiraquitã Verde”, de Edyr Augusto Proença
“O estranho”, de Rodrigo Barata
“A Querida Irmã”, de Saulo Sisnando

Elenco:
Adelaide Teixeira
Gisele Guedes
Luíza Braga
Marcelo Sousa
Saulo Sisnando
Flávio Ramos – como “o cadáver”
Iluminação:
Sonia Lopes
Sonoplastia:
Leonardo Cardos

{Quatro Vs Cadáver}



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