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Apenas vá!

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Quando um amigo seu o convidar para ir vê-lo no teatro, faça um esforço e vá! Mesmo que não seja uma peça com Marco Nanini ou Fernanda Torres... mesmo que não seja um musical gigantesco de dez milhões de reais. Vá! Mesmo que desconfie de a peça não seja tão boa, talvez até pobrezinha. Faça um esforço e vá! Neste mundo em que temos Meryl Streep e Leonardo DiCaprio facilmente acessíveis no catálogo de um streaming, o teatro é um dos últimos lugares onde vivemos o real. É no teatro que um povo se enxerga, se reconhece e se reinventa. É um espaço no qual sentimos nosso semelhante, interagimos e não nos sentimos sozinhos. Pois há pessoas não apenas ao seu lado, mas à sua frente, sem a fria distância de uma tela de celular. O teatro está em todos os lugares. Nas menores cidades, pode não haver cinema ou bom sinal de internet, mas certamente existe um grupo de teatro, pois ele dá voz às nossas histórias, preserva a memória, provoca reflexão e desperta sentimentos que fortalecem nossa identida...

HIPÓTESE

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Nossa história amor ainda pulsa como “e se” Já existiu, já foi hipótese Mas vive, apesar da dor. Resta remoer o passado, Imaginar um outro agora Estando tu ao meu lado, no girar de cada hora. Se o filme da vida Tivesse atores maduros, A felicidade não perderia, E teríamos, nós, o futuro. Se o tempo fosse diverso, — Tivesse te encontrado depois  — O nosso amor, feliz verso. Seriamos demais: seriamos dois No mundo sem despedida, Sem magoas pelo não dito, Não restaria a carne ferida, só filho, gato  — infinito   . Talvez fora apenas sonho, União frágil, não destino Mas como saber, se me proponho A não esquecer o desatino? Do amor antigo, seguindo servo No eclipse, vivendo o "não", Mas com o coração sempre no alvo, dessa fria solidão. Saulo Sisnando 20.06.2025

TEATRO VERDADEIRO - Quando arte, eu vivo!

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Nos últimos tempos, eu tenho andado em busca de um “Teatro Verdadeiro”. Embora a verdade para um não seja a mesma para o outro. Nos tempos de inteligências artificiais, musicais enlatados e busca por uma estética “Broadway”, sinto o meu “teatro verdadeiro” voltar-se para o essencial, para o rústico, para o off-line. Cada vez mais, sinto-me em casa apenas quando estou em um teatro compromissado com a sua raiz experimental. O teatro atual abre mão de sua vocação guerrilheira e revolucionária, para se tornar um produto dentro de um mundo de plástico, no qual qual bom é se parecer com a Broadway. Ninguém se importa com o coração do espetáculo; o que interessa é assemelhar-se ao “original” da Disney. E então abandonamos nossas histórias, nossas lendas, nossa estética e, pior, nossas lutas urgentes e pulsantes — para, na conhecida síndrome de vira-lata, nos empenharmos para fazer peças tão “boas” quanto os americanos, os ingleses e os franceses. Embora eles estejam contando suas histórias. E...

SOBRE TRêS e o fim!

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“Enfim, ela descansou.” Foi assim que recebi a notícia da partida da tia Célia, justamente quando chegava para a última apresentação do espetáculo TRÊS. E não há como não pensar em fins… em encerramentos de ciclos. TRÊS, minha nova peça, é inspirada no espetáculo Violetango, de Miguel Santa Brígida — mestre no início da minha trajetória como ator e que, justamente nesta semana, me anunciou sua aposentadoria após décadas como professor da UFPA. Tia Célia chegou um pouco antes. Foi minha professora na 3ª e 4ª séries, no Colégio Nazaré. Ela morava em frente à minha casa, e todos os dias eu entrava no seu Fusca branco, e Íamos juntos para a escola. No carro, éramos amigos, quase mãe e filho. Na sala, ela era a professora, e eu, o aluno. Foi com tia Célia que aprendi os tempos verbais e decorei — até hoje sei de cor — todas as preposições da língua portuguesa. Em sua homenagem, escrevi, em 2019, a peça “O Príncipe Poeira e a Flor da Cor do Coração”. Apresentei no Rio de Janeiro e ganhei vár...

ENVELHECENDO A CÉU ABERTO

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Fiquei a fim de um rapaz mais novo, Nada de amor, queria só algo carnal. Ele disse: você era belo, quando moço; Que tal hoje fazer um lifting facial? Cortando e puxando, volta a brilhar, Não vai nem dar muito trabalho. Só cuidado para não ficar Com as sobrancelhas dos Barbalho. Você ainda tem algum viço, Posso facilmente notar, Mas tem muita pele sobre teu olho, Um cansaço… É só isso. Existe fimose ocular? Te acho interessante e até gato, Deve ser esse excesso de vida Que escorre da tua papada. Inteligente, ouve Liniker, lê Gabo, Mas tua idade é como ferida, Que contamina após breve encarada. Queria ter coragem de te beijar, Mesmo que por um minuto. Te admiro, porra!, tenho até tesão, Mas não posso te mostrar. Quem sabe, a sós e no escuro, Mas não aqui no Mangueirão. Fica só com o meu olhar, Que te enxerga com admiração. Mas outro tenho de beijar No show da Batidão. Você é bonito, Malha e pratica esporte. Saia de casa, velhice não é vergonha, Te desejo toda a sorte. Não comigo, Na próx...

FINALMENTE, A MEDALHA ou A TEELA SEM CABEÇA

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  Apaixonei-me pela Ginástica Artística em 1988, quando, pela primeira vez na história, o Brasil levou uma atleta para as Olimpíadas: Luísa Parente. Eu tinha apenas 10 anos. Apesar de toda a empolgação de termos uma representante em Seul, os olhos estavam voltados para a disputa entre Yelena Shushunova, da União Soviética, e Daniela Silivaș, da Romênia. Meu pai, também entusiasta da ginástica, sentava-se na poltrona, e eu, no chão, e juntos assistíamos àquela rivalidade. Eu torcia para Shushunova, com seu solo impecável ao som de um tango, e ele para Silivaș, com sua entrada peculiar na trave de equilíbrio. Silivaș — e meu pai — eram elegantes, enxutos e longilíneos, enquanto Shushunova — como eu — era visceral, intensa e apaixonada. Nossa relação de pai e filho sempre foi marcada por essa diferença estética: ele sempre leu Erico Veríssimo, e eu, Clarice Lispector. Lembro que gravamos as competições daquele ano em uma fita VHS e, depois disso, passei a assistir repetidas vezes ...

PARA AQUELE RAPAZ DO ÔNIBUS.

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  Algumas pessoas se apaixonaram pelo primo mais velho. Outras, pelo professor de artes. Muitos, desenvolveram paixonites sofridas pelo amigo hétero, e amargaram em segredo a obrigação de manterem os sentimentos aprisionados. Vibrando e suspirando veladamente, cada toque de joelhos – enquanto estudavam para a prova de matemática – a cada cheiro, que permanecia após o abraço de despedida. Eu, por outro lado, sempre ultrarromântico, era do tipo de me apaixonar perdidamente no ônibus. Lembro-me, como se fosse hoje, a primeira vez na qual me apaixonei por um rapaz no ônibus. Era início dos anos 90, eu devia ter uns 15 anos, e era fim de tarde, com   céu daquela cor romântica a pintar sempre as histórias de amor passadas. Peguei o coletivo em frente ao colégio Marista e sentei na primeira poltrona, logo após a catraca. Pela idade, decerto, eu estava pensando no meu novo livro jamais escrito nos moldes de Sidney Sheldon. E entre pensamentos sobre autógrafos e bestsellers, meus...