Senhora de tudo

 



Para alguns tens a expressão de um ídolo,

Para crianças, o focinho do animal,

Para amantes, a face de quem sucumbiu ao câncer,

Para mães, o filho que levou um tiro,

Para mim, tens as rugas de meu pai.

 

Oh, Senhora de tudo,

Neste finito mundo em três dimensões,

Não conseguimos entender tua beleza,

Pois se eu te perguntasse do teu próprio rosto,

Dirias de cores que não existem

De sabores utópicos e cheiros impossíveis,

Mas, nas alegorias, como mais te aparentas,

Serias a peça de teatro depois do fim,

O ingresso do cinema serenando na carteira,

A fotografia analógica que tremeu,

O ônibus lotado no meio da viagem,

O vinil girando no fim de um dos lados.

 

Tu és o escuro, o claro.

O verde e o azul. O forte e o baixo.

Tudo ao mesmo tempo. Sem tempo algum.

O começo do fim e o fim do começo.

Por isso, quando a hora certa chegar,

E os astros no céu fizerem um perfeito círculo,

Não temas a Senhora de tudo,

Pois ela é exatamente como a vida:

Uma explosão, um abalo, um abraço,

mas sem som, luz ou dor.

Apenas estática.


Saulo Sisnando

02.01.23

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