Devo me assumir gay?




Se tem uma questão que nos acompanha desde o dia em que nos descobrimos é se devemos ou não “sair do armário”. E... caso devamos... Qual o momento certo?
Bom, como todas as perguntas complicadas da vida, essa também possui uma resposta muito simples: 
“Ninguém sabe. Ninguém, além de você, jamais saberá.”
Não importa o que você tenha lido. O que dizem os militantes ou os conservadores. Só você vive a sua vida. Só você luta suas lutas e sabe das suas dificuldades.
Seria muito cômodo para mim, com 40 anos, financeiramente independente dos meus pais, dizer que todos devemos sair do armário.
Eu não sei como é na sua casa. Não sei de suas inseguranças. Nem de suas infelicidades. Não sei se seus pais acreditam num Deus que te coloca no pecado... não sei, muito menos, se você mesmo acredita nesse Deus.
Não existe como saber a hora certa. Continuamente ouço pessoas comentando que, depois de uma turbulência inicial, se assumir gay foi libertador, foi “como tirar um peso das costas”. Mas eu conheço também vários jovens que sofreram abusos e violências  em suas casas depois de saírem do armário. 
Teve gente que apanhou. Teve um rapaz que o pai obrigou a transar com a prostituta. Teve uma que a família mandou a menina para outra cidade, afinal – para a mãe dela – ela não era lésbica, estava apenas sob má influência
Se me perguntarem se eu acho importante se assumir gay, eu responderei que sim. Para mim, quanto mais gays no mundo... melhor! Eu acredito que a pluralidade diminui o preconceito.
As pessoas tem em suas cabeças que gays são cabeleireiros, caminhoneiras ou vivem malhando na academia. E sim! Há centenas de gays que se enquadram nesta ideia e não há problema nenhum nisso. Embora haja também milhares de héteros que são cabeleireiros, caminhoneiros ou se matam na academia. 
Um dia desses, um colega de trabalho me disse: 
“Cara, se não fosse pela sua voz, eu jamais diria que você era gay”.
Eu fiquei olhando para ele e pensando: “cara, se não fosse por esse seu pensamento, você até nem seria preconceituoso”.
E quantas vezes ouvimos frases terríveis como “o que irrita não é o viado, mas a viadagem”. Ora, o que é essa viadagem? Provavelmente nada além daquilo que se aproxima do estereótipo que a sociedade criou para os gays. 
Eu não sou cabeleireiro e não vivo na academia. Eu sou advogado, escritor e trabalho apresentando eventos, deve ser por isso que ... se não fosse pela minha voz... eu até passaria por heterossexual.
As pessoas precisam entender que eu não quero me “passar” por heterossexual, eu ficaria muito feliz em simplesmente me passar por um gay comum, com um trabalho comum, uma casa comum, um cachorro comum. 
Pois, embora a nossa sociedade machista tenha se empenhado por séculos para dizer que não, a única diferença entre os heterossexuais e os gays reside no sexo do seu parceiro. Em nada além disso. 
Há gays que são bancários e tem a voz mais grossa que Schwarzenegger.  Há héteros com voz fina. Há gays que dirigem caminhão, há gays que não.  Há os que fritam pastel na rua, que apresentam programas de tevê, que vendem seguros, lâmpadas de led e bombons de chocolate. Tem aqueles sarados, mas tem os gordos, os brancos, os pretos, os japoneses, os maratonistas, os cadeirantes, os jogadores de basquete. Existem gays de todos os tipos. Se tem um hétero num lugar, saiba... um gay também poderia estar lá. E quanto mais gente gay existir no mundo, mais todos verão que não tem nada demais ser gay.
Se assumir não é uma tarefa fácil. Todos sabemos. Tenha seu próprio tempo. Não deixe ninguém se meter nisso, essa é uma escolha sua.  Não existe hora certa ou errada para dizer a todos que você é gay. Se não se sente pronto, não conte.
Neste mundo, você tem apenas o dever de ser feliz. Não importa quem você leu ou quem disse o que... Só você sabe o momento certo! Se você precisar ficar ainda uns anos calado sobre sua sexualidade... Fique! Se quiser contar, ponha a boca no trombone. Se achar que não é da conta de ninguém, mande todos para as cucuías. Se achar que é... abrace aqueles que te amam.
Viver não tem regras e não tenha a “saída do armário” como uma obrigação... viva da maneira que for melhor. 
Apenas me prometa ser feliz e saiba que eu estarei sempre por aqui.


SAULO SISNANDO
e-mail: saulosisnandoescritor@gmail.com

31 de janeiro de 2019

*Neste blog e nestes textos, eu estou falando de mim. Sei que a questão LGBTI+ e das demais minorias é plural, por isso sou tão pessoal aqui. Espero que outras pessoas se identifiquem, mas entendo aquelas que viveram outras histórias, outras dores, outras guerras
Estou falando de um tema, mas não ouso falar por todos.
Comentem abaixo, curtam minha página no facebook ou me escrevam saulosisnando@hotmail.com

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