Saulo Sisnando: "A procura de sua molécula perdida"

Entrevista feita por Landa de Mendonça
e publicada no blog Meninas Convencidas,
em 16 de novembro de 2011.


Hoje aqui no nosso Blog, eis que consigo realizar um sonho antigo: entrevistar um dos mais atraentes (em todos os sentidos! hehehehe) e talentosos artistas da minha geração, meu amigo e meu querido Diretor, Saulo Sisnando!
Definir Saulo Sisnando? Bom, eu só me arrisco em classificá-lo como “Adorável”!

Escritor, Dramaturgo, ator, mestrando e funcionário Público do Tribunal de Justiça até às 14h, este Cearense/Paraense formou-se em Direito pela Universidade da Amazônia no mesmo ano em que concluiu o curso Técnico de Ator na Escola de Teatro e Dança da UFPa.
Teve vários contos premiados e publicados pela UFPa entre 2002 e 2003. Em 2005 lançou seu primeiro livro, o “Puzzle: tenha fôlego para chegar ao fim!”, uma fantasia de terror infanto-juvenil (Editora Novo Século).
Em agosto de 2007, sem grandes ambições e montado com custo quase zero, estreou o primeiro espetáculo como dramaturgo.
“Útero – Fragmentos românticos da vida feminina” foi um sucesso estrondoso e inesperado. Diariamente filas espectadores formavam-se em frente ao teatro, em busca de um ingresso para o espetáculo, que levava para o palco, sem mitos ou tabus, o universo feminino das mulheres de Belém.
Embora tenha ficado apenas um mês em cartaz, “Útero – Fragmentos românticos da vida feminina” deu credibilidade ao novo dramaturgo, que, aproveitando o sucesso da peça, não deixou a peteca cair e produziu outros espetáculos de sucesso como “popPORN – Sete vidas e infinitas possibilidades de corações partidos”, “Cartas para ninguém” e “Quatro versus Cadáver”, modificando a atual cena paraense e levando multidões aos teatros, provando que espetáculos teatrais podem ser muito divertidos.


Rapidamente, o humor simples e os personagens facilmente reconhecíveis de Saulo Sisnando, fizeram seus textos teatrais migrarem para outros centros urbanos, “popPORN” foi montado no Rio de Janeiro sob o título “Os neuróticos” (Teatro Vanucci no Shopping da Gávea/RJ) e “Útero” foi montado pela companhia paulista “Fé Cenica”, com muito sucesso em São Paulo.
Em 2010, Saulo Sisnando estreou seu projeto mais ousado “O incrível segredo da Mulher-Macaco”, com os atores Wendell Bendelack (do espetáculo “ Surto”) e Rodrigo Fagundes (do programa de TV “Zorra Total”), uma super produção, que estreou no FITA – Festival Internacional de Teatro de Angra para uma plateia recorde de 2000 pessoas.
Em 10 anos de teatro, Saulo Sisnando já participou, seja como ator, diretor ou escritor, de 15 espetáculos.

Outro dia numa conversa ele soltou uma frase marcante:

" Sou um escritor em busca de minha molécula perdida"

Pra vocês, uma amostra desse tabuleiro de palavras, inteligência e bom humor que é Saulo Sisnando:

MC - Você lembra o dia em que você percebeu que seria um artista?
Eu me descobri artista no dia em que a Sonia Lopes (minha iluminadora) me contou que uma moça tinha se casado por causa de uma peça minha. Contou-me que havia um carinha que sempre dava bola para essa moça, mas ela nunca estava nem aí pra ele... Então, depois de ver uma peça minha, pensou sobre ele... Sobre o amor... E decidiu dar uma chance. [Reza a lenda que estão casados e muito felizes]. Para mim, arte é isso. É modificar a vida do outro. Poder fazer algo de bom para a plateia.

Sempre imagino que, sentadas nas poltronas, estão mães que perderam seus filhos, filhos que perderam seus pais, amantes que estão longe de seus grandes amores... Se eu puder ajudá-los, nem que seja por uma hora, estarei satisfeito. Minha vida estrá plena. Isso é ser artista.

MC - E como você consegue administrar a sua vida de escritor, ator, diretor, dramaturgo e funcionário publico até as 14?
Não acho nada complicado. A única complicação que encontro é quando tenho de preencher formulários, porque nunca sei o que colocar no espaço destinado à profissão. Mas no resto do tempo, acho normal. As coisas só são extraordinárias quando estamos vendo de fora. De dentro é simples.

Além do mais... Quem de nós não é mil coisas ao mesmo tempo? Há mulheres que são advogadas de manhã, mães em tempo integral, esposas na parte da noite... E ainda vão para academia, fazem Ioga, supermercado, levam bichos no PetShop e tem tempo de se maquiar e se equilibrar em saltos altos... A vida de todo mundo é um caos. A única diferença é que escolhi profissões de nomes bonitos.

MC - Quais as suas influências nas suas obras como escritor e Dramaturgo respectivamente, e suas referencias de ator?
Tenho muitos livros de cabeceira e muitos atores, que queria ser igual. Mas acho que o me influencia mesmo é a vida. São os corredores do meu local de trabalho... São as fofocas que ouço quando estou no meu canto carimbando processos... São as histórias das ascensoristas de elevador... São os segredos que me contam as vendedoras de AVON, que semanalmente levam seus catálogos para eu ver...

O que me influencia são as histórias sempre loucas de meus amigos, que me ligam e dizem: “tenho uma pra te contar”. E são minhas próprias histórias de amor... Que (in)felizmente terminam em muitos desencontros, risos e um tico de lágrimas.

Claro, Claro. Eu amo a Patrícia Melo, a Agatha Christie, a Lygia Fagundes Telles... Mas não acredito que elas me influenciem... Porque não sabem nada do meu mundo... Da minha vida. E a minha visão de mundo que eu quero contar.

MC - Como é ser artista em Belém? Existem dificuldades (tanto para reunir um elenco, produção e afins) e se houverem o que você faz para vencê-las?
Estou para ver um lugar no mundo(!) onde seja fácil ser artista. Estou certo de que a Meryl Streep e a Fernanda Montenegro, antes de serem quem são, passaram por muitos perrengues. Isso é... se ainda não passam!

Belém tem seus problemas. O rio tem outros tantos. É difícil em qualquer lugar! Mas só há um jeito de vencer as dificuldades: fazer! O povo teoriza demais, discute demais, espera demais, reclama demais. Ok. Ok. Gente, agora vamos fazer?

Todo mundo sabe que é difícil ser artista... Que vivemos numa dificuldade financeira do caramba. Temos de lutar para mudar isso. Certo! Mas não vai ser para agora... Isso não vai mudar com o próximo raiar do sol.
Então, quer apenas ganhar dinheiro... Sei lá... Vai ser dentista! (aliás, nem sei se dentista ganha bem)

MC - Você já teve textos seus dirigidos por outros diretores em diversos cantos do Brasil? Como é pra você, que sempre dirige seus textos, vê-los ganhar vida pelas mãos de outro diretor?
Não vejo problema nenhum em ver meus textos sendo dirigidos por outras pessoas. O meu texto é uma peça literária encerrada. Findou-se em si mesma no momento em que a imprimi. O que fazem no palco com ela, é uma versão de uma peça literária. Não é mais apenas meu. Haverá, na montagem, um pouco da história do diretor, dos atores, dos iluminadores, dos sonoplastas, etc.

O grande problema é quando diretores incompetentes fazem bobagem com a montagem e depois culpam o texto. Eu já passei por isso... Vi uma montagem extremamente homofóbica e preconceituosa de um texto meu. E o texto era o completo oposto. Aí, quando acaba... Os espectadores olham bem na cara do escritor e dizem: “bastardo!” e depois cospem no chão.

MC - Verdade que já te chamaram de Woody Allen dos trópicos?
Já me chamaram de tudo. Vivem comparando o que eu faço com o Woody Allen (que eu, sinceramente, acho que não tem nada a ver), com o Almodóvar, com o Hitchcock.

A verdade é que as pessoas gostam de rotular.

Viram uma peça minha e um filme do Almodóvar e já se sentem no direito de dizer que eu o copio. Essa mania de todo mundo ter de ser intelectual. De fingir que entendem do assunto.

Dia desses disseram que uma peça minha era “cópia” de uma outra, que eu nem tinha visto... ao que respondi: “eu e o outro autor estávamos intuídos pelo mesmo espírito e psicografamos a mesma peça”. Não tinha outra explicação!

Depois vi a peça do outro cara e descobri que não tinha nada a ver. Era intriga pura e simples.

MC - Verdade que você adora trabalhar com "não atores"? Como é o processo? É melhor, pior ou apenas diferente?
Eu gosto porque, como eles não são do meio, não estão cheios de vícios da profissão, eles têm umas ideias muito loucas... Que os atores experientes não teriam.

Mas obviamente dá trabalho ensaiar com não atores... Porque você tem de explicar tudo... Dizer como falar, como andar, como existir num palco. Hoje em dia, ando preguiçoso... Prefiro não apenas trabalhar com atores, mas trabalhar com os MEUS atores... Aqueles que quando eu digo “vai ali e fa...” e antes de terminar a frase eles já fizeram.

MC - Como veio a decisão de fazer o mestrado?
Não veio.
Me disseram: “tem um mestrado aberto”. Eu disse: “beleza”. Fui lá, fiz a prova e passei. Como já disse, não problematizo muito. Eu faço!

Queria, também, refletir um pouco sobre meu processo criativo. Queria conhecer novas pessoas. Ler novos livros. E, quem sabe, um dia ser professor numa Universidade Federal. Trocar um cargo público por outro.

MC - E sua estreia no Rio de Janeiro? Como repercutiu no Pará?
Não repercutiu. A não ser aqui em casa... Foi a maior festa. Meu pai e minha mãe ficaram muito felizes. (risos)

Não acredito muito nesse lance de repercussão e reconhecimento. Isso é tudo ilusão. Entra peça e sai peça e eu continuo na mesma casa, com os mesmos amigos, comendo pizza na mesma pizzaria.

Aqui em Belém, sou até “meio” famoso. Mas de que serve? Continuo encalhado... Se me dissessem: “o reconhecimento vai te trazer o amor da tua vida”. Eu ia passar meses sem dormir e ia fazer uma peça incrível. Mas até alguém me garantir isso, eu vou fazendo as peças pensando apenas no que sempre penso: em estar com meus amigos e em ser feliz. Essas são as duas razões que me levam a fazer teatro.


MC - Quais os seus planos a curto, médio e longo prazo?
Só tenho um plano: encontrar um grande amor e ser feliz com ele. Quem quiser se candidatar, veja minhas fotos no Facebook (não uso photoshop) e me mande um e-mail bem fofo.

MC - Um passarinho me contou que você deve deixar Belém em breve, é verdade?
Sim! Fui numa cartomante que me disse que meu grande amor mora no Rio. Então decidi fazer meu doutorado na cidade maravilhosa. Tolos são aqueles que não acreditam em cartomantes.

MC - Alguma peça na manga?
Várias. Mas todas ultra secretas.

Eu só conto de minhas peças às vésperas da estreia. Porque às vezes nós falamos... E por algum motivo a peça não rola... Aí sempre vem um babaca, mete o dedo na tua cara, e diz: “é, né, disseste que ia fazer tal peça e nem fizeste. Só furo”.

Mas o lance (dica minha) é ter muitos projetos. E ir fazendo todos ao mesmo tempo. Porque UM deles (por DEUS!) vai ter de sair...

MC - Defina Saulo Sisnando em uma palavra?
Não posso me definir em uma palavra. Somos uma palavra nova a cada dia. Infelizmente a palavra que sou hoje, não posso revelar, por ser um nome próprio.

Não dá vontade de conhecer tudo que ele escreve e mais sobre ele? Então fiquem espertas que sempre estaremos divulgando!!!
Aqui está o link para você ler dois textos lindos do blog dele!! No blog, você vai saber (quase tudo hehehe) sobre ele, enjoy!!!

Comentários

  1. Eu sei que não queres ser uma pessoa "ownnn", rsrsrs, sinceramente não sei o que dizer ou como reagir quando o assunto é Saulo Sisnando, a primeira vez que te vi foi nos palcos em "Quatro versus Cadáver" e me apaixonei pelo artista com que me deparava ali, tão completo, tão único, conseguiste me envolver dentro da peça; depois tive a oportunidade de conversar com vc - mesmo que virtualmente - e me apaixonei pela pessoa maravilhosa que és, pelo cara romantico que nos toca com coisas simples, e que dessas coisas simples consegue poetizar, transformar em arte.
    Sou sua fã e não nego - por isso fiquei tão feliz ao descobrir que sou um de seus "novos amores" - e espero que um dia possamos sair e conversar pessoalmente e poder te dar um abraço (que estou te devendo desde o 1ºClic neh?)

    bjus, seu lindo =*

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  2. Poxa, Ábia, não fala isso hoje pra mim. Hoje, em especial, meu romantismo está no último grau. Chorei lendo seu depoimento. Espero que a gente saia muito... e converse muito... e se abrace muito...
    e saiba que nesses tempos novos... aprendi que sou uma pessoa melhor do que eu pensei que era. E mais romântico do que eu pensei que era.
    E talvez Deus tenha colocado tudo isso na minha vida hoje, apenas para que eu prestasse atenção de que não estava colocando em prática 1/3 do amor que ele me deu no dia em que me criou.
    Se eu pudesse voltar no tempo... eu não teria perdido nenhum dos meus maravilhosos grandes amores...
    pelo menos sei, hoje, que quando o próximo chegar... será tratado com todo este carinho enorme que eu tenho aqui no meu peito... e expresso no meu blog... mas que por algum motivo não dei para o o meu último amor...
    quem sabe noutro tempo ele não volte... quem sabe ele tenha servido apenas para eu perceber tudo... quem sabe... quem sabe...

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