As moléculas. O amor. E as estrelas cadentes.












Para minha partícula perdida no cosmo.

Sempre soube que não duraria muito tempo. De fato, durou bem pouco. Mas a verdade é que o tempo do amor não é o mesmo tempo da vida. Este se mede em minutos, dias, anos; e aquele se conta em batidas cardíacas. E neste rápido tempo que passamos juntos, meu coração bateu tão forte e tão ligeiro, que sinto como se te amasse antes de te conhecer... Antes mesmo de começar a rodar o cronômetro da vida... Como se nosso amor fosse (e é) uma invenção de outra era, de outra vida. Como se o nosso sentimento fosse mais do que um simples afeto, porém a energia cósmica que mantinha as estrelas no céu...
O teu toque em mim era o imã que ativava a conexão invisível entre a transcendência e o universo; e entre o artista e sua obra. E nós – eu e tu – éramos o passo do bailarino, a palavra do escritor e a explosão de uma supernova a anos-luz de distância.
Mas no nosso último enlace, enquanto estávamos unidos em lágrimas acesas, minha essência se dissipou pelos teus braços e minha alma se dissolveu em moléculas, para vagar a esmo por entre os prédios desta cidade ou no vazio da galáxia, buscando novamente uma força que as una derradeiramente em um só corpo.
E tudo que tenho. Tudo que tu tiveste. Todos os objetos que existem no cosmo perderam a razão de ser na tua ausência e tendem a despencar do infinito, rasgando o céu como estrelas cadentes. E só então entendo para onde vão as alianças de um amor perdido e em que dimensão estão as cartas de amor de uma paixão que não existe mais. E, em brasa, descubro como destruir a memória da dança que as estrelas faziam no céu toda vez que tu seguravas a minha mão.
E imagino os livros que te dei, as roupas, as joias e as minhas esperanças derrotadas explodindo em faíscas coloridas e brilhando nos céus das noites mais escuras; nossa paixão falida, sendo estrelas mortas, mas fazendo sonhar os novos amantes.
E nesta queda, eu te chamo. E sei que tu me ouves... Porque a minha voz é a voz de tudo. É a voz da tua solidão. É a voz do infinito.
Que os meus objetos signifiquem por mim...
Que tu nunca me esqueças...
Que os pássaros sejam a música que guia teus passos de ballet e o universo vazio seja a inspiração para eu continuar escrevendo nessa vida...
Que as estrelas parem de despencar... E que meus dedos dilacerem o tempo e, numa outra dimensão, minhas moléculas consigam se unir novamente.
Que minha alma te acompanhe na tua dança... E tua voz sussurre as belas frases dos meus textos...
E que eu continue te amando de longe... Até o dia em que uma chuva de meteoros faça brilhar em ti novamente a estrela repetida de uma paixão que já morreu há tempos.
Saulo Sisnando definitivamente escrevendo
como Saulo Sisnando
06.11.2011


Comentários

  1. Nossa! obrigado. Sabes que vim aqui... agora... para deletar esse post... mas depois de ler o que você escreveu, vou deixá-lo aí. Obrigado. Eu chorei escrevendo. Beijos. Que você encontre sua molécula perdida...

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  2. Parece uma oração de tão sentida e verdadeira.
    Amei, como amo todas as tuas letras.
    Tua molécula já está encontrando corpo em mim!

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  3. Querido, que lindo.
    Senti aqui o que tu sentes. Consigo entender porque sinto...
    Entendo bem esse tempo do amor... E o quanto ele pode ser intenso mesmo sendo breve. É o amor quebrando todas as regras, todas as escalas e todas as verdades. E a gente sabe quando ele chega e inunda tudo, muda tudo e a vida da gente nunca mais é igual...

    beijo grande <3

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  4. Eu ainda estou buscando a dimensão onde minhas moléculas se unirão novamente.

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  5. André Ribeiro de Santana7 de novembro de 2011 às 21:53

    Querido Saulo,
    Terminei de ler com lágrimas nos olhos! O amor enquanto força primordial dos universos é eterno, mas nós, frágeis humanos não fomos moldados para a eternidade! Só nos resta vivenciá-lo com intensidade e entrega, sem medo de sermos desintegrados por seu poder, mas talvez naquele que amamos sua chama se esgote primeiro, quem sabe pelas armadilhas do cotidiano, ou pela mortalha da rotina,o certo é que quando o amor torna-se unilateral também torna-se fardo cruel. Então é melhor seguir a vida com a certeza que uma história de amor talvez nunca acabe realmente, pois suas energias mesclam-se ao próprio Cosmos e suas manifestações. Então, algum dia, em algum momento, iremos sorrir sem saber o porquê, ao receber um raio de Sol ou uma chuva da tarde! Mas é nosso amor voltando para nos dar um alô! Um abraço!

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  6. Saulo, realmente o que escreves é lindo e de um sensibilidade que consegue alcançar e tocar até o mais insensível.
    Seria tão bom se não sofrêssemos de amor =/

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