20 anos

 


se eu não tivesse te conhecido naquele dia,

a vida seria uma sucessão constante de alegrias

e os fatos seguiriam a ordem tão lógica das ciências

que eu cantaria tua beleza apenas em forma de poesia.

 

se eu não tivesse te encontrado naquela noite escura,

eu não teria sido arrancado do meu trivial e pequeno paraíso,

para, até hoje, ficar fugindo de ti, como se em busca de uma cura,

sem jamais encontrar a perdida paz e um local de sorriso.

 

de quem é a culpa pela tua morte, joão?

até onde vai tua culpa por teres me deixado em pranto?

eu ainda estou, sozinho, perambulando nessa escuridão,

enquanto tu já fazes parte, há 20 anos, do vento:

liberto, alegre, suave, vazio, vão.

fazendo parte da terra, do mato, do minúsculo grão.

sem olfato, sem cheiro. apenas ossos no chão,

mas rasgando, com tuas unhas, que ainda crescem lento,

o meu coração.


saulo sisnando

19.12.22

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